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Ep. 13 Marina Costa Lobo – O peso das políticas europeias nas opções eleitorais dos cidadãos

December 08, 2016

ep013_interiorQual o peso da União Europeia nas eleições internas de um estado membro? De que forma a crise económica e a intervenção da troika moldaram a opinião política dos portugueses? São algumas das questões que o projeto MAPLE (Medir e Analisar a Politização da Europa antes e depois da crise da Zona Euro), procura responder.


Vencedora de uma bolsa para projetos do Conselho Europeu de Investigação (ERC), Marina Costa Lobo, investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, analisa a forma como a crescente importância da União Europeia (UE) tem influenciado a política nacional desde o inicio da crise da Zona Euro.

O projecto da investigadora tem como objetivo estudar o impacto que o tema "Europa" tem ganho nas eleições legislativas entre 2000 e 2016 em Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda, Bélgica e Alemanha, e em particular a forma como a crescente importância da União Europeia tem influenciado a política nacional desde o início da crise.

O contraste entre países que viveram realidades distintas durante a crise foi o principal critério para a sua seleção. “Vou analisar Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda, Bélgica e Alemanha para contrastar países em que houve, ou resgate e troika, como Irlanda, Grécia e Portugal, com outros países que viveram este período com relativa tranquilidade e prosperidade”, refere.

“Quero tentar perceber, em que medida as percepções de que a política económica é determinada por Bruxelas, ou pelas instituições europeias, leva a uma desresponsabilização do governo em funções”. Para a investigadora esta análise pode permitir compreender até que medida a globalização “reduz o poder do estado, o altera, e altera a relação entre o estado e os seus cidadãos”.

“Quero tentar perceber se isso está de facto a acontecer em Portugal no âmbito da sua integração europeia ou se, pelo contrário, continua a ser possível responsabilizar o governo, porque ao fim ao cabo, o governo continua a ser o representante das políticas europeias no país”, afirma.

Para Marina Costa Lobo, até ao início da austeridade a UE era vista de forma consensual na maioria dos países. Por outro lado, as eleições legislativas eram um momento em que os cidadãos tinham oportunidade de “premiar ou castigar” um governo, em que a política económica era “muito importante para determinar o voto”. Mas com a crise “as pessoas finalmente compreenderam que o centro de poder económico estava em Bruxelas”, considera a politóloga.

“Antes da crise, a posição de Portugal na UE era uma matéria consensual entre os maiores partidos, PS e PSD. Os candidatos ao parlamento europeu até se queixavam que não tinham espaço para apresentar as suas ideias para a Europa. Hoje em dia este panorama alterou-se totalmente. Há maior divergência entre o PS e o PSD sobre a Europa, sobre o que nós queremos para a Europa, e o que Portugal deve ser na Europa.”

Eleitorado mais esclarecido sobre matérias europeias

Contudo, esta conjuntura tem também alguns aspetos positivos, representados por uma maior preocupação do eleitorado sobre temas europeus. “Essa divergência leva a um debate muito maior e que é proveitoso para os cidadãos que tomam conhecimento das políticas europeias, e que podem tomar uma posição melhor informada sobre esses temas”.

“Hoje em dia, e isso é um dos efeitos positivos da crise, temos um eleitorado mais esclarecido sobre a interdependência de Portugal, sobre o que significa estar no Euro, sobre a tomada de decisão em relação à política económica e em relação à política financeira. Tudo isso são temas entre os quais havia muito mais desconhecimento antes de 2011, do que hoje em dia”, reforça.

Crise muda o foco do debate político

Para Marina Costa Lobo, o facto de a grande maioria das políticas económicas serem ditadas pela UE “tem consequências para o significado das eleições”. “Quando existe um governo maioritário ele deve ser responsável pela globalidade das políticas e portanto é muito fundamental que os cidadãos olhem dessa forma para o governo. Há aqui um risco de deslegitimação do excutivo por um lado, mas outra consequência é que outros factores se tornem mais importantes para ajudar à escolha eleitoral. Se não podemos discutir economia porque achamos que a economia não é determinada pelo governo, então começamos a discutir políticas sociais e começamos a discutir tudo o que é de facto nacional do ponto de vista das decisões.”

O projeto de investigação vai passar por inquéritos a cidadãos e por uma análise a conteúdo noticioso dos quatro países que sofreram um maior impacto com a crise, e também da Alemanha e da Bélgica – que, em contraste, viveram tempos de crescimento económico – para avaliar “em que medida é que os eleitores continuam a responsabilizar os seus governantes”, explica a investigadora, acrescentando que “precisamos de compreender a forma como as pessoas tomam decisões eleitorais”.

Saiba mais sobre a investigadora em: LinkedInResearchGate | ICS | Perfil Online

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