A análise antropológica da presença portuguesa em Timor veio demonstrar que o colonialismo português na região foi muito mais violento do que se pensava, em contraste com a propaganda histórica do Estado Novo.
Ricardo Roque, investigador no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, estuda a relação entre os portugueses e as populações indígenas dos territórios colonizados.
“Estudo o colonialismo português especialmente em Timor e tenho-me preocupado em perceber como é que os portugueses tomam elementos das culturas nativas nas suas formas de governo e administração e ao mesmo tempo, paralelamente os timorenses tomam para si muitos aspetos da presença e da administração portuguesa, também para servir interesses próprios e nos seus próprios termos culturais”, conta Ricardo Roque.
O antropólogo tem levado a sua investigação para o estudo do mimetismo cultural entre os colonos portugueses e os habitantes da ilha, com foco em atos de violência, como a decapitação dos inimigos. “Tomo a violência como um aspeto que não se pode retirar das relações tão cúmplices como estas que são relações de mimetismo, aliás elas são centrais. Precisamos de ser lembrados que o nosso colonialismo não foi uma realidade tão suave, tão serena, tão bucólica como nos tentaram convencer durante longas décadas especialmente durante a fase final do regime de Estado Novo”, salienta.
“Estas investigações que cruzam história e antropologia obrigam-nos a questionar estes adquiridos sobre o que é o modo português de estar no Mundo e onde ele existiu, certamente teve muito mais violência do que nós presumíamos. Não é preciso ir apenas à guerra colonial da década de 60. Podemos ir buscar em muitos outros exemplos formas infelizmente tristes, e não tão benignas como esperávamos, de cumplicidade entre portugueses e nativos”, conclui.
Saiba mais sobre o investigador em: Google Scholar | Academia.edu | ICS
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