Conhecido pela descoberta da planta Welwitschia (polvo do deserto) no deserto do Namibe em Angola, as coleções de Friedrich Welwitsch são ainda hoje consultadas por especialistas das mais diversas áreas.
Sara Albuquerque, investigadora do Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência (CEHFCi) e do Instituto de História Contemporânea (IHC) na Universidade de Évora, foca o seu trabalho no estudo das coleções deste botânico, hoje divididas entre Lisboa, Londres e os Jardins Botânicos de Kew no Reino Unido.
Friedrich Welwitsch foi um botânico austríaco enviado pelo governo português numa expedição a Angola entre 1853 e 1860. Segundo a historiadora, o facto de o campo da História da Ciência ainda não ter estudado profundamente as coleções de Welwitsch, motivou o desenvolvimento desta investigação. “As suas coleções são consideradas ainda hoje as melhores coleções de flora tropical africana nas zonas onde ele esteve a coletar, quer pela sua qualidade, quer pela sua conservação, quer mesmo pela quantidade de espécimes. Embora sejam coleções de referência que continuam a ser frequentemente citadas e consultadas por investigadores estrangeiros, o campo da história da ciência não tem sido devidamente explorado.”
Atualizar os dados históricos da coleção e conhecer os contactos que Welwitsch realizou durante as suas viagens são o principal objetivo deste projeto. “Os últimos estudos foram realizados nos anos de 1970 e é necessário fazer um update destas investigações. Com este projeto pretende-se perceber a rede de contactos deste botânico e entender como estes contactos moldaram as suas coleções.”
“Ele contactava com diretores de jardins botânicos, como por exemplo os jardins botânicos de Kew, com o Richard Spruce, um explorador da América do Sul, e o David Livingstone, o famoso missionário, explorador e geógrafo escocês, com quem ele conviveu ainda algumas semanas e trocaram bastantes impressões.” Ao estudar esta rede de contactos é possível não só saber quem Welwitsch conheceu, mas também perceber como esses contactos conseguiram moldar as coleções: “Ficamos assim com uma melhor noção do seu espólio, porque ao conhecer o seu espólio podemos preservá-lo. E não se pode preservar aquilo que não se conhece.”
Sara Albuquerque reconhece a importância da História da Ciência, pois “é cada vez mais importante termos visões mais alargadas e fazermos comparações ao longo do tempo.”
“Em termos de História da Ciência não é só importante saber o que aconteceu, mas tentar perceber, fazer comparações e ver o contexto. Por exemplo, ao conhecermos a sua relação com o rei D. Fernando II, podemos perceber porque um botânico austríaco foi enviado para Angola. Sabermos o contexto é essencial para percebermos as suas coleções.”
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