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Ep. 64 Miguel Pina e Cunha – Como surge o genocídio em sociedades democráticas

February 17, 2017

ep064_interiorAnalisar os diferentes tipos de organizações, e a forma como estas são lideradas, permite compreender os processos que levam uma sociedade liberal como a Viena cosmopolita do início do séc. XX, a produzir líderes autocráticos como Hitler.​


Miguel Pina e Cunha, investigador na Nova School of Business and Economics (NovaSBE), estuda os processos que levam organizações anteriormente democráticas e liberais a originar regimes de opressão capazes de crimes como o genocídio.

“Não há nada pior do que ver pessoas noutras circunstâncias normais envolvidas na produção de coisas tão horríveis como o genocídio. Temos a tentação de ver este tipo de processos extremos como resultado da loucura de uma pessoa. Essa explicação por um lado é reconfortante porque nos dá a ideia que a culpa é apenas de um louco, mas a verdade é que nenhum louco fez um processo desses sozinho, e esses loucos, mesmo que o sejam, acabam por ser acompanhados por pessoas normais, e muitas delas com boas intenções”, afirma.

Para Miguel Pina e Cunha, quando investimos demasiado numa dimensão ideológica da sociedade, acabamos por empurrar a realidade na outra. O investigador dá o exemplo da Viena cosmopolita dos inícios do séc. XX: “Era uma sociedade que produziu aquilo que se calhar de mais nobre existiu no séc. XX, estamos a falar do Maillard, do Freud, de uma série de grandes escritores como o Musil, mas foi essa mesma Viena que acabou por criar o gérmen do nazismo. A verdade é que a tolerância, o cosmopolitismo, a abertura e o liberalismo acabaram por criar as circunstâncias sociais que depois permitiram a emergência daqueles líderes que vêm defender as causas dos que estão insatisfeitos com esse estado.”

Segundo o investigador, é possível encontrar paralelos ao longo do tempo de situações em que o excesso de acções politicamente correctas acabam por gerar uma grande atracção pelo politicamente incorrecto.

“Aquilo que nós temos tentado fazer do ponto de vista da investigação em liderança, e em particular neste processo, é tentar perceber como é que estes opostos se atraem e como é que nós podemos ter um caminho mais equilibrado que, no fundo, não nos leve nem para um extremo nem para o outro”, conclui.

Saiba mais sobre o investigador em: LinkedIn | Researchgate | NovaSBE

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