O início dos anos 80 foi palco para a explosão de um grande número de bandas que ainda hoje caracterizam o rock português. O sucesso destas bandas e o motivo para esta explosão são hoje objeto de estudo.
Luís Trindade, investigador do Instituto de História Contemporânea (IHC) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), está atualmente a desenvolver um projeto sobre a evolução e o consumo da cultura pop em Portugal nos últimos 50 anos, olhando não apenas para o rock, mas também para a literatura e para a televisão.
“A primeira questão em relação àquilo que na altura se chamou o boom do rock português foi porque é que nos anos 1980/81 houve essa explosão. Por que não existiu antes? Aquilo que existia nesse momento que não existia antes, julgo eu, era a juventude. No fundo há aí a resposta a uma certa procura de uma juventude que já consumia rock anglo-saxónico em escala crescente e que tem no rock português a possibilidade de finalmente ter rock em português.”, explica.
Para o investigador o facto destas bandas cantarem rock em português foi um dos principais ingredientes para o seu sucesso. Na sua investigação, Luís Trindade, olha para estes fenómenos culturais há procura daquilo que estes nos dizem sobre as transformações na sociedade: “O que me parece é que o boom do rock português em 80/81 é marcador da emergência da juventude como uma força social autónoma. Por outro lado o rock revela também as alterações na percepção política e na percepção social do Portugal a sair da revolução e a caminho dos anos 80.”
“O rock inicial quase todo ele mostra uma certa ansiedade com a sociedade de consumo, com a modernização, mas por outro lado já não é antifascista como era a música de intervenção dos anos 70. De algum modo pode ver-se o rock português como desprovido de ideologia, se o compararmos por exemplo com a música do José Afonso, do Sérgio Godinho, José Mário Branco”, refere.
Segundo Luís Trindade, esta característica do rock português revela também novas subjetividades e novos discursos políticos próprios de uma sociedade que está a abandonar o ambiente político da revolução e a encaminhar-se para a Europa e para uma nova sociedade de consumo.
O investigador pretende assim caracterizar a sociedade portuguesa da segunda metade do século XX, olhando para a cultura que esta consumia, e como esta própria cultura espelha nos seus produtos a realidade que era vivida pelo país.
Saiba mais sobre o investigador em: IHC