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Ep. 8 Cristina Silva Pereira – Material descoberto em casca de plantas ajuda a matar bactérias e a curar feridas

November 30, 2016

ep008_interiorA casca de árvores como o sobreiro e a bétula guardam substâncias com propriedades antimicrobianas e antifungícas que podem ser usadas para desenvolver poliésteres com aplicações clínicas na prevenção e no tratamento de infeções bacterianas​.


Cristina Silva Pereira, investigadora do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, da Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA), é a responsável pelo laboratório que desenvolveu o processo que permite a extração da suberina, uma molécula vegetal que pode ser encontrada na cortiça, mas que ninguém tinha conseguido extraiar de uma forma que permitisse o seu uso para fins terapêuticos.

“No laboratório estabelecemos um processo inovador que permite através de sais líquidos recuperar estruturas físicas da planta, que são poliésteres e que normalmente desempenham um papel defensivo na planta. Conseguimos recuperá-los de uma forma que preserva a química nativa e propriedades defensivas que existem na planta.”

Estes materiais existem em todas as plantas, são muito abundantes na cortiça, por exemplo, ou na casca de bétula, onde compõem cerca de 50% do peso da casca. Esta característica faz destes poliésteres materias biodegradáveis. “Como estamos a falar de cascas ou de restos de cascas que se podem ir buscar como resíduos de processos agroflorestais, agroalimentares ou de processos industriais, acreditamos que este é um produto altamente sustentável, não só pela natureza do material, mas também porque o agente, o sal líquido que usamos para o extrair foi desenhado por nós para ser sustentável e para garantir a biodegradabilidade”, afirma a investigadora.

Para Cristina Silva Pereira a principal aplicação destes materiais passa pelo tratamento de infeções de natureza fungíca e bacterial. “São antimicrobianos, impedem a adesão das células bacterianas e, além disso, são resistentes à água e têm propriedades mecânicas muito interessantes. Podemos compará-los, em alguns pontos, com a própria epiderme humana, o que sugere logo o uso ou o melhoramento destes materiais como sistemas defensivos para a própria pele, para prevenir infeções da pele ou como tratamento de infecções.”

“O nosso principal foco é melhorar estes materiais para terapias antifungícas, quer preventivas quer curativas. As infeções sistémicas por fungos matam cerca de dois milhões de pessoas por ano. São as principais responsáveis pela morte em crianças portadoras de HIV, e levam à cegueira cerca de meio milhão de pessoas por ano.” Grupos de risco suscetíveis a infeções por estes fungos como os diabéticos, pessoas que passam por tratamentos oncológicos, ou por tratamentos imunosupressores, compõe já cerca de de 7% da população mundial. O crescimento gradual destes grupos de risco urgem a necessidade de desenvolver novos métodos de prevenção e de tratamento contra este tipo de infeções.

Além das suas propriedades clínicas, estes produtos podem ser aplicados no desenvolvimento de recipientes de plástico ou outras aplicações do dia-a-dia. “Estamos a falar de poliésteres que são usados em todas as aplicações mundanas, desde uma garrafa de água a um copo, e há múltiplas hipóteses e oportunidades de aproveitarmos as suas propriedades antimicrobianas nestas aplicações.”

Este projecto é financiado pelo European Research Council (ERC), que atribuiu em 2015 uma Consolidator Grant de 2 milhões de euros à investigadora Cristina Silva Pereira para o desenvolvimento da sua visão científica.

Saiba mais sobre a investigadora em: LinkedInResearchGate | ITQB NOVA | Notícia ERC

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