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Ep. 28 Ana Isabel Queiroz – Literatura portuguesa permite reconstruir a história das aves em território nacional

December 29, 2016
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Filipa Soares e Ana Isabel Queiroz

Mais de cem espécies distintas de aves podem ser identificadas em obras literárias de cerca de setenta autores portugueses dos últimos dois séculos. Estes dados podem ajudar a reconstruir a história ecológica das espécies presentes em território nacional.​


Ana Isabel Queiroz e Filipa Soares, do Instituto de História Contemporânea (IHC) da Universidade Nova de Lisboa, são as autores deste estudo que engloba um total de 910 excertos, de 144 obras literárias de 67 autores portugueses do séc. XIX até à atualidade.

“Estávamos a estudar o que a literatura revela sobre a relação dos Humanos com a natureza e constatámos que as aves são elementos muito frequentes.” No seu estudo, Ana Isabel Queiroz verificou que os escritores não apenas se referem às aves com designações genéricas como, “as aves, ou os pássaros”, mas que estes também as classificam de forma a identifcar a espécie e a que pertencem. “Os escritores referem-se a espécies, ao Melro, à Poupa, ao Peto, ao Pato-real, à Cegonha, etc. Foi com esse sentimento e com essa constatação que elaborámos um protocolo de investigação para estudar não uma obra, nem a obra de um só autor, mas um conjunto muito alargado de literatura portuguesa.”

A historiadora analisou obras publicadas desde o século XIX até à atualidade para analisar que aves selvagens se encontravam representadas, quais as diferenças nas representações ao longo do tempo, e o que estas revelam sobre a distribuição e a abundância das espécies no nosso país.

Espécies associadas à caça como a Perdiz, a Rola e o Pombo eram as espécies mais referidas pelos autores analisados: “Descobrimos que havia uma prevalência de espécies cinegéticas, a Perdiz, o Pombo e a Rola são das três aves mais representadas nos cerca de novecentos excertos literários que analisámos. Isso significa que o tema da caça e que a caça como forma de relacionamento entre o Homem e a natureza é muito importante ainda nos dias de hoje.”

Entre os autores analisados, destaca-se Aquilino Ribeiro, com 82 unidades taxonómicas mencionadas na sua obra. Portugal Pequenino de Maria Angelina e Raul Brandão é a obra com a maior menção de unidades taxonómicas distintas, sendo possível identificar cinquenta e nove espécies diferentes por entre as páginas deste livro.

Para Ana Isabel Queiroz a literatura tem dado, não só relativamente às aves, mas relativamente a muitos outros grupos animais e vegetais, indicações sobre a distribuição passada das espécies. A historiadora vê a literatura como um repositório que deve ser explorado para fazer a história ecológica das espécies.

Saiba mais sobre a investigadora em: LinkedInResearchGate | IHC-UNL

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