Esta investigação está a estudar a evolução da cartografia europeia desde as cartas portulano do século XII até às cartas de latitude desenvolvidas pelos portugueses para navegarem em alto-mar.
Joaquim Gaspar, antigo oficial da Marinha e membro do Centro Interuniversitário de História das Ciências e Tecnologia (CIUHCT) no polo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), recebeu uma bolsa do Conselho Europeu de Investigação (ERC, sigla em inglês) para desenvolver o projeto MEDEA-CHART com o objetivo de estudar o nascimento, a evolução e o uso das cartas náuticas europeias, desde os tempos medievais até à idade moderna.
O projeto MEDEA-CHART vai estudar dois períodos grandes períodos da História da Cartografia, no período medieval com o desenvolvimento das primeiras cartas portulano do Mediterrâneo, e no século XV com a expansão do conhecimento náutico durante os descobrimentos portugueses.
“Há pouco tempo tive a fortuna, e a competência, para ganhar um projeto da União Europeia as cobiçadas bolsas do European Research Council (ERC), que no meu caso foi focalizada na história da cartografia em dois grandes períodos, no período medieval durante o qual se desenvolveram as primeiras cartas náuticas do Mediterrâneo, estamos a falar de um período que vai entre o século XII e o século XV”, refere.
As cartas portulano, cartas medievais desenhadas com base no olho e na experiência dos pilotos dos navios, eram usadas para auxiliar a navegação pelo mar Mediterrâneo, e serviram de inspiração para os pilotos portugueses que se aventuraram ao longo da costa africana.
“Estou interessado em estudar a génese e em estudar a evolução técnica das chamadas cartas portulano do Mediterrâneo, que eram cartas náuticas que eram utilizadas pelo piloto para apoiarem a navegação no Mediterrâneo e também as cartas que se seguiram, ou que evoluíram a partir das cartas portulano e que foram introduzidas pelos portugueses. Chamo-lhes cartas de latitude porque eram cartas construídas não só através dos rumos da agulha, da agulha de marear como diziam os portugueses, que é a bússola marítima e de distâncias estimadas pelos pilotos, mas a partir das latitudes observadas por métodos astronómicos a bordo”, acrescenta.
Foi esta evolução que deu lugar também a uma revolução da cartografia medieval europeia. A geometria das cartas portulano teve que ser adaptada aos novos métodos de navegação, mais especificamente, à introdução da latitude observada astronomicamente.
Estas cartas, originadas a partir do imaginário dos pilotos, permitiam uma fidedigna navegação do Mediterrâneo, contudo, não tinham informação sobre a costa atlântica africana, por esta ainda não ter sido estudada na altura.
A introdução de instrumentos com base em medidas astronómicas permitiu que os navegadores portugueses não só se aventurassem em alto-mar, como possibilitou também um nível mais elevado de precisão nas distâncias e no desenho das futuras cartas de latitude.
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