paleontologia,
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Ep. 10 Mário Cachão – Pegadas da Praia Grande constroem retrato de uma Sintra tropical na Era dos Dinossáurios

December 02, 2016

ep010_interiorDescoberto em 1981, o trilho de pegadas de dinosáaurio da Praia Grande, em Sintra, preservou até aos nossos dias vestígios dos animais que habitavam o ambiente tropical da costa portuguesa no Cretácico Inferior há 115 milhões de anos.​


Mário Cachão, paleontólogo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e investigador no Instituto Dom Luiz, revela a importância que icnofósseis, vestígios fósseis de pegadas, ou impressões deixadas por animais, têm para dar a conhecer o comportamento e o modo como viviam animais já extintos.

“As pegadas de dinossáurios, de uma maneira geral dão dois tipos de informação: informação sobre o organismo que as produziu e sobre o comportamento em vida desses animais. Os icnofósseis, que são fósseis de marcas de atividades fossilizadas, são produzidos em vida portanto e dão-nos pequenos flashes sobre o modo como os organismos se comportavam e funcionavam. As pegadas dão-nos informação sobre a morfologia dos membros dos organismos, podemos classificá-los por famílias e por grupos, se são saurópodes, terópodes ou ornitópodes.”

A jazida da Praia Grande tem pegadas que correspondem a animais herbívoros e carnívoros, num total de 66 pegadas, 55 das quais distribuídas por 11 rastos que parecem ter sido feitos por animais bípedes, estando as restantes aparentemente isoladas. Segundo Mário Cachão, “há três tipos de pegadas, há as grandes impressões circulares e em meia-lua atribuídas aos saurópodes, dinossáurios herbívoros de grande porte com pescoço e caudas bastante desenvolvidas; impressões de terópodes, os carnívoros predadores do primeiro grupo, com pegadas com três dedos bem definidos e com a extremidade do dedo indicando a presença de garras; e ornitópodes, animais herbívoros, de locomoção sobretudo bípede, com três dedos, mas com uma impressão mais alargada que os destingue dos terópodes.”

Icnofósseis como as pegadas de dinossáurios podem revelar aspetos sobre a velocidade com que o animal se deslocava, a sua postura, a forma como se movimentavam, e se tinham uma postura quadrúpude, ou bípede ou ambas. “As pegadas permitem identificar estes aspetos de uma maneira que por vezes não se pode interpretar através do esqueleto, naquele caso em que os animais podem assumir as duas posturas, os trilhos dão-nos essa informação. Permitem equacionar o comportamento gregário, como agiam em manada e em grupo, e caracterizar comportamentos individuais de predadores.”

Águas quentes e praias tropicais na Sintra do Cretácico

A Praia Grande em Sintra há 115 milhões de anos era irreconhecível quando comparada com os dias de hoje. “Neste caso da Praia Grande estamos a falar do Cretácico inferior, junto a uma zona costeira, uma zona de laguna, onde se avistaria o mar e uns recifes de águas tropicais, ainda não existia a Serra de Sintra, o Atlântico não era tão extenso como atual. As águas eram bem mais quentes, teríamos um mar de pequenas profundidades, bordejado por recifes, estruturas recifais e na parte do continente para leste teríamos sistemas fluviais importantes que reocuparam o local onde os dinossáurios deixaram essas pegadas.”

Nem todos os locais tinham as condições necessárias para a fossilização das pegadas. Segundo o investigador são necessários locais de pequena profundidade na passagem de ambientes marinhos para ambientes continentais, ambientes muito planos, de raso de maré, com uma pequena lâmina de água onde ocorra a deposição de um lama carbonatada, com um comportamento “plástico, semelhante às vasas argilosas, que permitem a preservação das nossas pegadas. Nessa altura é sobretudo nas lamas carbonatadas que os grandes répteis imprimiam com alguma pressão e deixavam uma pegada com expressão morfológica. Estas endurecem através de um processo relativamente rápido e quando não há uma deposição muito activa de sedimentação a marca da pegada é preservada”, descreve.

Nanofósseis fazem o retrato de um Atlântico jovem

Atualmente Mário Cachão dedica-se à investigação em micropaleontologia mais concretamente, na investigação de nanofósseis calcários e na paleoecologia de nanoplâncton calcário em ambiente oceânico.

Os nanofósseis calcários são vestígios fossilizados de microorganismos como o plâncton e o fitoplâncton. Identificados em registos geológicos desde o período Triásico ( à cerca de 223 milhões de anos) até à actualidade, são um dos principais atores no ciclo global de carbono, uma vez que a produção do revestimento calcítico das células de fitoplâncton envolve a subtração de carbonato de cálcio dissolvido na água do mar e a sua deposição e posterior enterramento nos leitos oceânicos.

Estes fósseis podem ser usados como marcadores biostratigráficos, e como indicadores da ecologia e do ambiente oceanográfico do tempo geológico a que pertencem. Os nanofósseis podem indicar-nos a composição do mar primitivo e dar-nos uma ideia sobre os níveis de carbono na atmosfera do passado.

Saiba mais sobre o investigador em: ResearchGate | FCUL

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