Projeto pretende perceber qual é o impacto da evolução do conhecimento científico de espécies como o manatim no desmistificar de figuras míticas como as sereias.
Cristina Brito é investigadora do Centro de História d’Aquém e d’Além Mar (CHAM- Centro de Humanidades), Universidade Nova de Lisboa, e coordena o projeto denominado “Negulomasa e Guaraguá ou Vaca Marinha”, cujo objetivo é perceber de que forma as espécies marinhas do atlântico moderno entre os séculos XV e XVII eram utilizados e percebidos pelas populações desse período de tempo.
Peixe-mulher, vaca-marinha ou peixe-boi eram nomes que se referiam ao mesmo animal marinho na era do Atlântico moderno: o manatim. “Quando se descreviam as sereias da antiguidade e as sereias medievais, seria de pensar que a partir do momento em que estes animais tropicais marinhos começavam a ser conhecidos, como sejam os manatins por exemplo, que se transformassem lentamente, ou seja, que houvesse uma progressão do conhecimento científico e da história natural, de animais imaginários para os animais reais”, explica a investigadora.
Ou seja, em teoria a partir do momento em que os manatins se tornaram conhecidos ao Homem, deixariam de existir sereias. “Não é o que se passa, na verdade a sereia é uma lenda transversal a culturas e cronologias, aparece um pouco por todo o mundo desde sempre até ao momento presente, e vai-se desenvolvendo paralelamente àquilo que se conhece sobre estes animais marinhos exóticos”, justifica.
Quando os portugueses e os espanhóis começaram a explorar o Atlântico, os manatins eram desconhecidos na Europa. Foi nessas explorações que começaram a surgir as primeiras anotações e ilustrações desses animais marinhos, “a maioria das quais não entrou nos circuitos mais centrais da história natural europeia, ou seja, a maior parte dos naturalistas e enciclopedistas não incorporou esta informação feita pelos portugueses, que vinha do Brasil e das costas de África para Lisboa”, conclui Cristina Brito.
Saiba mais sobre a investigadora em: ResearchGate