Restos mortais do século XIX descobertos na Ermida do Espírito Santo em Almada pintam uma nova imagem sobre os hábitos da população local há duzentos anos.
Através da técnica de fluorescência de Raio-X de expressiva energia, Sofia Pessanha, investigadora do Laboratório de Instrumentação, Engenharia Biomédica e Física da Radiação da Universidade Nova de Lisboa (LIBPhys FCT/UNL), descobriu uma elevada concentração de mercúrio no cabelo dos restos mortais de um indivíduo, que sugere o recurso a este metal pesado para o tratamento contra piolhos.
“Estudámos um conjunto de indivíduos que fora enterrado na Ermida do Espírito Santo em Almada, entre meados do século XVIII e meados do século XIX, e dos conjuntos de restos mortais destes indivíduos havia um indivíduo bastante interessante para nós: Uma senhora que apresentava um conteúdo de mercúrio no cabelo bastante acima do normal, cerca de 5% de mercúrio no cabelo”, conta.
Ao analisar os restantes restos mortais, nomeadamente, o crânio, a massa encefálica, os ossos da mão e os dentes, apenas foi encontrado mercúrio no cabelo e no crânio.
Para Sofia Pessanha, uma possível resolução para este mistério encontra-se num medicamento usado naquela época com o objetivo de erradicar os piolhos: “A nossa teoria é que este mercúrio terá sido aplicado externamente. Viemos a descobrir um medicamento para os piolhos que na altura seria à base de mercúrio, portanto a nossa teoria é que esta senhora terá aplicado este medicamento à base de mercúrio no cabelo daí a contaminação apenas no cabelo e no crânio.”
Por convite do Museu Arqueológico de Almada, Sofia Pessanha recorreu à técnica de fluorescência de Raio-X de expressiva energia que, segundo a investigadora, tem dado resultados bastante interessantes na identificação elementar de restos mortais, nomeadamente, de ossos.
“O conhecimento da composição deste tipo de amostras no que diz respeito aos metais pesados permite-nos compreender hábitos alimentares, possíveis contaminações ambientais e ocupacionais, e hábitos de cultura daquele período específico daquela comunidade”, acrescenta.
A fluorescência de Raio-X de expressiva energia é uma técnica usada para a análise elementar, ou para a caracterização química de uma amostra. A portabilidade dos instrumentos necessários para a sua aplicação, fazem com que esta técnica possa ser utilizada em estudos de arqueologia pois permite levar o equipamento ao museu ou ao sítio arqueológico e fazer a análise in situ.
Saiba mais sobre a investigadora em: LinkedIn | ResearchGate | LIBPhys
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