Peças de arte e ferramentas do dia-a-dia desenvolvidas pelo Homem primitivo dão-nos pistas sobre a evolução da cognição humana. Estudar estes artefactos e como os próprios foram sendo alterados ao longo dos séculos permite conhecer o processo criativo dos nossos antepassados.
Nuno Bicho, investigador do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) e professor na Universidade do Algarve (UAlg), olha para os locais arqueológicos do paleolítico em Moçambique, descobertos recentemente pela sua equipa, com o objetivo de preencher as lacunas da nossa história evolutiva.
“Como reconhecemos a cognição? Hoje temos uma vida que é brutalmente complexa e nem sequer nos damos conta dessa complexidade, mas quando olhamos para trás, para o passado, é relativamente simples percebermos que em determinadas fases desse passado houve saltos qualitativos do ponto de vista da cognição”, explica.
Segundo o investigador, esses saltos são visíveis através dos artefactos escavados pela sua equipa. A morfologia, a qualidade estética e artística desses objetos fornecem-nos um olhar sobre os processos de pensamento do Homem primitivo.
Com o aparecimento da nossa espécie, o Homo Sapiens Sapiens, há cerca de 200 mil anos, é possível observar um salto enorme do ponto de vista tecnológico, económico e também artístico, nos objetos que eram então produzidos.
“Nem todos os artefactos são arte e há ferramentas como por exemplo o biface que é simplesmente uma pedra que foi talhada, mas que tem claramente elementos de estética incorporados e que nos permitem perceber que os nossos antepassados já tinham alguma capacidade cognitiva que estava associada ao seu dia-a-dia”, acrescenta.
Responsável pela descoberta de algumas dezenas de novos locais de interesse arqueológico em Moçambique, Nuno Bicho tem como objetivo continuar a explorar a história paleolítica desse país africano, focado na descoberta de novas pistas sobre como evoluiu a cognição humana.
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