Este estudo procura descobrir uma relação entre as neurotoxinas produzidas pelas bactérias presentes no nosso estômago e os primeiros sintomas da doença de Parkinson. Esta investigação pode dar origem a terapias preventivas contra esta doença neurodegenerativa.
Sandra Morais Cardoso, professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da mesma Universidade, com a colaboração do seu colega Nuno Empadinhas, pretendeu averiguar qual a relação entre as neurotoxinas produzidas pelas bactérias do nosso sistema digestivo e a doença de Parkinson.
Este estudo baseia-se na comunicação entre o microbioma intestinal, os microrganismos que colonizam o intestino, a e as células do sistema nervoso. A equipa de Sandra Morais Cardoso partiu de pistas que indicam que existem bactérias que, embora não sendo patogénicas, podem produzir e libertar neurotoxinas que afetam o funcionamento dos neurónios. Estes resultados sugerem que a doença de Parkinson idiopática possa ser uma patologia com uma componente infeciosa e que possa vir a ser tratada com antibióticos.
“Os dados iniciais que existiam mostravam que os doentes de Parkinson tinham obstipações e alterações do aparelho gastrointestinal muito antes dos sintomas motores. Nós temos imensas bactérias que vivem no nosso intestino e estas bactérias são células e portanto produzem metabolitos e estes metabolitos podem induzir processos tóxicos. Em condições especiais estes metabolitos podem aumentar o número no nosso intestino e enviar neurotoxinas que vão actuar a nível da mitocôndria e desse modo induzir um processo neurodegenerativo”, explica.
“Vamos tentar provar a nossa hipótese para que no futuro estes doentes possam ter uma resposta e que esta resposta possa ser uma tentativa de parar a progressão da doença e de agir preventivamente”, acrescenta.
Segundo a investigadora, se descobrirem o agente responsável por esta neurotoxina, será possível começar a tratar doentes assintomáticos que já tenham alterações a nível intestinal, criando assim um processo clínico de acompanhamento diferente do que existe hoje: “Conseguiríamos, assim, impedir o aparecimento da doença de Parkinson esporádica associada à idade.”
Sandra Morais Cardoso venceu o Prémio Mantero Belard 2016, entregue pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, pelo projeto "Efeito toxinogénico da microbiota intestinal na doença de Parkinson esporádica: à procura de "antiPDbióticos".
Saiba mais sobre a investigadora em: ResearchGate | CNC