bioquímica,
90 seg

Ep. 22 Nuno Raimundo – Como comunicam entre si as diferentes estruturas dentro da célula

December 21, 2016

ep022_interiorOlhar para o que deixa de funcionar dentro de uma célula afetada por uma doença metabólica, ajuda a reconstruir o processo de comunicação entre as diferentes estruturas que geram energia dentro da célula.​


No seu laboratório na Universidade de Gottingen na Alemanha, Nuno Raimundo estuda como as mitocôndrias e os lisossomas – estruturas respetivamente responsáveis pela geração de energia, e pela reciclagem dos resíduos produzidos pela própria céula – comunicam entre si: “O meu laboratório está a estudar como é que estas estruturas comunicam com outras estruturas celulares. Percebemos que todas estas estruturas dentro das células, as que produzem energia, as que fazem reciclagem, as que fazem todo o tipo de atividades, estão em constante comunicação umas com as outras, e estamos a tentar perceber quais são as peças do puzzle que nos permitem ligar as diferentes estruturas celulares umas às outras.”

“As estruturas que estamos a prestar mais atenção para já são as mitocôndrias, que é onde se transformam os açúcares em energia, e os lisossomas, que é uma espécie de centro de reciclagem dentro da célula. As formas que são usadas para comunicar ainda não estão completamente clarificadas mas já se percebeu que em situações de doenças metabólicas, por exemplo, em que há uma mutação genética que leva a uma deficiência na função mitocondrial, ou na função lisossomal,  conseguimos perceber que quando uma destas estruturas não está a funcionar bem, a outra deixa de funcionar de forma adequada”, explica.

Segundo o investigador, os mecanismos exatos que fazem de intermediário entre estas duas estruturas ainda não são completamente claros, mas a forma como o cálcio é distribuído entre essas estruturas pode ter um papel relevante. “Sabemos que o cálcio é muito importante, pois a maneira como a célula gera a distribuição de cálcio pelas estruturas celulares é fulcral neste tipo de comunicação. Mas ainda está numa fase inicial, ainda estamos a tentar perceber esse processo em detalhe.”

Observar os processos que falham dentro da célula, em doenças metabólicas, cancro, doenças neurodegenerativas ou diabetes tipo II, ajudam a compreender como esses próprios processos deviam funcionar num ambiente normal. “Os estudos de genética humana muitas vezes revelaram funções para determinadas proteínas que de outra forma não teriam sido descobertas. Se pensarmos num carro, liga-se a ignição, o carro começa a funcionar, e está tudo excelente, mas, por exemplo, se a bateria – que neste caso podemos comparar às mitocôndrias como a fonte de energia – não estiver a funcionar, o carro não pega e não sai dali. É esse o tipo de raciocínio que muitas vezes se aplica em doenças genéticas. Quando há uma mutação numa proteína, que torna essa proteína disfuncional ou que faz a proteína desaparecer, o que é que acontece, ou o que deixa de acontecer nas células, é o que nos permite aprender qual é a função principal dessa proteína.”

Para Nuno Raimundo, o que a proteína faz em condições normais pode também revelar o que falha durante uma doença: “Às vezes é por sabermos o que determinadas proteínas fazem em condições normais que podemos perceber o que acontece em situações de doença. Usamos uma para informar a outra.”

Saiba mais sobre o investigador em: LinkedIn | U. Gottingen

Scroll to top