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Ep. 5 Daniel Alves – A influência do pequeno comércio na criação da identidade da Lisboa do Séc. XIX

November 25, 2016

ep005_interiorAs cidades foram mudando as suas identidades desde o século XIX até à atualidade, e o pequeno comércio fez sempre parte dessa formação. A influência dos pequenos comerciantes na política, na sociedade e na identidade de bairro da Lisboa do século XIX, é o alvo de estudo do historiador Daniel Alves.


“A identidade das cidades é um objeto dinâmico e o pequeno comércio pode ser um bom indicador do pulsar da cidade”. O investigador do Instituto de História Contemporânea (IHC) da Universidade Nova de Lisboa dedica o seu trabalho à caracterização deste comércio inserido no contexto político e sócio-cultural da Lisboa oitocentista.

“A cidade passou por uma grande crise na primeira metade do século XIX. Em termos políticos com uma grande instabilidade, a revolução liberal, a revolução de setembro de 1836, duas guerras cívis e uma dezena de golpes militares. Mas também, pela perda de uma parte substancial do Império, o Brasil, em 1820", conta. "Isso levou a que a cidade entrasse em crise no seu comércio, o que afetou muito os seus indivíduos. Já na segunda metade do século eles vão aproveitar o crescimento da cidade. A cidade estabiliza, cresce em termos populacionais, cresce em termos urbanos, e de uma forma muito substancial a partir da década de 1880, e o pequeno-comércio vai acompanhando a cidade. Diversifica-se, desenvolve-se, e vão aparecendo novas lojas”.

Dias longos com trabalho de “sol a sol”

O dia de um típico comerciante começava muito cedo. “Normalmente as lojas estavam abertas de sol a sol, ou mais. O comerciante era o dono da loja mas era também trabalhador nessa loja. Os dias eram ocupados com pequenas vendas, era um comércio muito pequeno. De vendas locais de abastecimento ao operariado ou, no caso da Baixa, às senhoras da burguesia. Mas era um dia de grande labuta, desde as cinco da manhã até à meia-noite, segundo alguns relatos”.

Durante o século XIX, o comércio na cidade de Lisboa é essencialmente constituído por mercearias, padarias, peixarias, talhos, tabernas, casas de venda de bebidas e comidas, conhecidas como “casas de pasto”, que, segundo Daniel Alves, chegariam a totalizar cerca de 50 por cento das lojas.

“As mercearias, as tabernas, as casas de pasto, como eram designadas, não eram só espaços de comércio. Tradicionalmente, eram espaços onde as criadas da burguesia vinham saber as novidades do dia e discutir a atualidade do bairro. Na Lisboa do século XIX, o pequeno comerciante era como uma espécie de âncora do bairro. Em vários locais eles contribuíram para a criação da identidade da cidade”, explica o investigador.

Para Daniel Alves, o comércio entre o século XIX e a actualidade mudou muito, contudo, “o discurso da crise, o discurso de um Estado que não ajuda o comércio, ou que só prejudica”, manteve-se. “Os clientes que fazem poucas compras, ou que não têm capacidade de consumo, essas críticas mantiveram-se, mas hoje o comércio, tal como a própria cidade, é diferente. O comércio foi-se adaptando aos novos tempos.”

Saiba mais sobre o investigador em: ResearchGate | IHC | Tese de doutoramento – A república atrás do balcão: os lojistas de Lisboa na fase final da monarquia (1870-1910)

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