Melhorar a qualidade da produção de cortiça, acelerar esse processo, ou aumentar a resistentência a fungos, pestes, e doenças, são apenas algumas das aplicações possíveis dos resultados do projeto GenoSuber.
José Matos, investigador do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), vê na sequenciação do genoma do sobreiro o próximo passo no futuro do desenvolvimento da indústria da cortiça.
“O sobreiro é a árvore nacional. É uma árvore que tem uma importância enorme na floresta portuguesa e na economia portuguesa. Nós só temos um produto em que somos líderes mundiais, e esse produto é a cortiça.”
O GenoSuber tem como objectivo a sequenciação total do genoma do sobreiro (Quercus suber L.). Portugal é o principal produtor de cortiça a nível mundial, com cerca de um terço da sua produção a ter origem nacional. Contudo, as alterações climáticas, a qualidade dos solos, os incêndios, as doenças, as pragas e os fungos são ameaças constantes ao desenvolvimento sustentável desta árvore que podem ser trabalhadas com recurso ao conhecimento do genoma do sobreiro.
“Existem doenças que atacam os sobreiros, ataques de fungos, de insectos e de pragas que, devido à elevada variabilidade genética do sobreiro, há árvores que são mais susceptíveis, outras que são tolerantes e outras que são resistentes. Essa tolerância e resistência são conferidas por genes. Neste momento não sabemos quais são, mas a sequenciação do genoma pode ajudar a identificá-los”, afirma.
Escolher a árvore que iria ser sequenciada não foi um processo simples. Os sobreiros cruzam-se frequentemente com outros carvalhos (árvores também do género Quercus), resultando em híbridos do ponto de vista genético, mas que visualmente são sobreiros. Numa fase inicial, a equipa seleccionou 50 sobreiros a nível nacional, para daí encontrar o sobreiro com o mínimo de heterozigotia possível, ou seja, menor variabilidade genética.
O trabalho de seleção envolveu a recolha de material vegetal das 50 árvores, com identificação geográfica e fotográfica, a extração de ADN das folhas e ainda a caracterização molecular com marcadores de microssatélites já disponíveis para sobreiro (pequenas sequências de ADN repetidas, que são utilizadas como marcador genético em estudos de parentesco). Daqui resultou a identificação da árvore a ser sequenciada: um sobreiro, com idade entre 120 e 150 anos, localizado na Herdade dos Leitões, em Montargil, no concelho de Ponte de Sor.
Os investigadores começaram por retirar ADN de folhas desta árvore, para ser sequenciado em laboratórios dos Estados Unidos e da China e também em Portugal, no Biocant e no INIAV.
O projeto envolve seis instituições: Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Baixo Alentejo e Litoral (CEBAL), BIOCANT, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (ITQB NOVA), Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET) e Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC).
Saiba mais sobre o investigador em: LinkedIn | ResearchGate | INIAV
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