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Ep. 14 José Queirós – Regurgitado de Aves ajuda a conhecer as Lulas Colossais

December 09, 2016

ep014_interior Difíceis de encontrar e até recentemente, consideradas como um animal mitológico, as Lulas Colossais estão hoje a desvendar os seus segredos através da mais improvável das fontes: bolas de vomitado regurgitadas por aves como os Pinguins e os Albatrozes.


José Queirós, biólogo do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente) da Universidade de Coimbra, desenvolve a sua investigação sobre a distribuição e os hábitos alimentares das Lulas do Oceano Antárctico.

“O que fazemos na nossa equipa de investigação é estudar o habitat e o nível trófico, ou seja, a cadeia alimentar, das lulas da antárctida. Utilizamos várias técnicas, especialmente isótopos estáveis, medimos as concentrações de carbono e de azoto nos bicos dos cefalópodes, e a partir daí podemos inferir onde é que a lula habita. Se está mais perto do continente, se está mais longe do continente, e o que é que ela anda a comer.”

Focado no sector Pacífico do Oceano Antárctico, entra a Nova Zelândia e a América do Sul, José Queirós investiga estes animais através dos restos deixados pelos seus predadores.“As lulas têm uns bicos, como se fosse a sua boca, onde estas se alimentam. Estes bicos resistem à digestão e nós podemos aproveitar os predadores, como por exemplo Pinguins e Albatrozes, pois quando estes se alimentam das lulas, vomitam  os bicos, que não são digeridos. Podemos pegar nessas bolas de vomitado e trazê-las para os laboratórios para analisar esses bicos”, conta.

Uma das características destes bicos é que eles crescem ao longo da vida da lula, sem haver substituição. Segundo o investigador,  a parte inicial do bico da lula contém informação sobre a fase juvenil da lula, e ao longo do bico é possível avançar no tempo e recolher dados sobre a vida do animal, até ao momento em que ele foi comido, de forma semelhante aos anéis dos troncos das árvores. “Aplicando a análise de isótopos estáveis no início do bico podemos dizer que a lula quando nasceu habitava estas águas e alimentava-se neste nível trófico.”

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Bicos de Cefalópodes

Esta informação permite também estudar a dispersão de agentes poluentes, metais pesados como o mercúrio, e descobrir em que zonas do oceano o animal foi mais exposto a estes contaminantes e em que nível trófico ele se encontrava. “Através de análises de mercúrio, podemos ver nas diferentes partes da vida da lula como é que ela estava a ser atingida pelo metal, se havia mais concentração de metal no oceano, no seu alimento, quando ela era mais juvenil ou se havia mais concentração quando ela era adulta”, afirma.

Lulas Colossais como fontes alternativas de alimento

José Queirós acredita que uma das soluções para alimentar a crescente população mundial pode passar pela exploração de recursos alternativos como as Lulas Colossais. “O oceano esgotou. Toda a gente ouve falar que as aquaculturas podem ser a solução, mas outra solução também é ir mais a sul, ou seja, deixar as áreas normais de pesca, continuar a explorar o que se explora, mas ir ao oceano antárctico.”

“Trabalhamos com lulas que podem chegar aos 40 metros de comprimento que são as Lulas Colossais, as Lulas Gigantes de 20 metros e outras lulas mais pequenas, mas sempre com tamanhos maiores do que aquelas lulas que estamos habituados a ver na nossa alimentação do dia-a-dia. Estas lulas, pensa-se, que podem vir para a nossa alimentação. Podem ser a solução para se arranjar mais alimento para a crescente população mundial.”

Saiba mais sobre o investigador em: LinkedIn | MARE

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