Este projeto vai olhar para as práticas do fogo no mundo rural e para o impacto que o abandono destes territórios teve na propagação dos incêndios.
Maria de Fátima Nunes, professora na Escola de Ciências Sociais da Universidade de Évora (UÉ) e coordenadora científica do Instituto de História Contemporânea (IHC) na mesma universidade, estuda o papel da ciência e da tecnologia no desenvolvimento das sociedades.
Atualmente o Instituto de História Contemporânea está a alargar a sua área de intervenção para a História da Ciência, da Tecnologia, e do Ambiente.
A ideia é estudar as sociedades a partir de uma dimensão histórica e interdisciplinar para perceber o papel que a ciência e a tecnologia tiveram em moldar o ambiente não apenas no passado, mas também na atualidade.
O objetivo é pensar os territórios sobre uma perspetiva de futuro no sentido de identificar as mudanças necessárias para melhorar a sua gestão e reduzir o impacto das alterações climáticas.
Um dos projetos desenvolvidos no âmbito desta linha de investigação é o FIREUSES, uma iniciativa que visa estudar os usos do fogo no mundo rural.
Para tal, está a ser feito o levantamento de narrativas sobre o uso dos territórios onde o fogo era usado de uma forma sustentável e harmoniosa.
“Estão a ser entrevistadas pessoas que viveram em territórios que desenvolviam sobretudo uma economia rural tradicional e que tinham uma convivência harmoniosa entre o mundo humano e o mundo do pastoreio, por exemplo”, conta.
Estes territórios foram sendo abandonados devido à imigração para o eixo industrial das zonas de Lisboa e do Porto que atraíram a população rural com a promessa de uma vida melhor.
“Isto teve o efeito de sugar as Beiras, o Alentejo, e Trás-os-Montes, em função dos grandes polos de centralidade”, acrescenta.
Isto significa que os terrenos rurais que eram geridos por estas pessoas foram deixados ao abandono. Os animais desapareceram o que provocou uma rutura no equilíbrio ecológico deste território.
Tudo isto coincidiu com as alterações climáticas para que o fogo deixasse de ser visto como uma ferramenta de gestão dos terrenos e passasse a ser visto como uma catástrofe.
O projeto FIREUSES — Paisagens de fogo: Uma história política e ambiental dos grandes incêndios em Portugal (1950-2020) é financiado por Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
Saiba mais sobre a investigadora em: Linkedin | Researchgate | Google Scholar | UÉ | IHC
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