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Ep. 16 Francisco Peixoto – Chumbar pode causar efeitos a longo prazo na auto-estima dos estudantes

December 13, 2016

ep016_interiorMudar o foco do insucesso escolar da incapacidade para a falta de esforço pode ajudar os alunos a recuperarem a sua auto-estima e a confiança nas suas aptidões académicas.


Francisco Peixoto, psicólogo no Centro de Investigação em Educação do ISPA – Instituto Universitário, tem desenvolvido investigação sobre o impacto que o insucesso académico tem em variáveis afectivas, como na auto-estima, as prestações de competências e as motivações em alunos do ensino básico e secundário. Segundo o investigador, reprovar apenas uma vez pode ter efeitos a longo prazo na auto-estima e na percepção das aptidões académicas do próprio aluno.

“Os resultados de alguns estudos que também temos realizado indicam que a repetência é de tal forma marcante que mesmo alguns anos depois a percepção de apetência académica do estudante continua a ser afectada. Fica lá a marca de algum sentimento de incompetência na componente académica”, conta.

De acordo com Francisco Peixoto, muitos dos alunos que reprovam procuram desenvolver outras apetências, quer a nível social, quer a nível de desporto ou das artes, para “alimentarem” a sua auto-estima após uma situação de insucesso escolar.

“Neste trabalho tenho procurado investigar de que modo é que os estudantes que sofrem uma situação de insucesso marcante como é a repetência, reagem a essa situação. O que os resultados têm evidenciado é que parece haver uma reorganização do modo de pensar sobre si próprio que faz com que os estudantes deixem de valorizar as áreas que podem ser ameaçadoras para a sua auto-estima, no caso dos estudantes com insucesso escolar, a área académica, e passem a valorizar outras áreas que possam ser mais gratificantes. Se são competentes na área desportiva, na área das relações sociais ou noutras áreas que possam ir experimentando, isso pode ser uma boa forma de fazer face à ameaça que o insucesso escolar representa para a auto-estima.”

Os resultados da sua investigação indicam que quando é dito a um aluno que a causa do seu insucesso é falta de capacidade, isto pode trazer consequências graves para a sua prestação escolar, sendo então preferível que o foco do insucesso seja colocado na falta de esforço e não na incapacidade do próprio aluno.

“Para conseguir de facto que esses alunos sejam recuperados para a escola é necessário que simultaneamente o seu nível de competência aumente e também que a sua prestação de competência aumente igualmente. Se eu acho que tive insucesso porque não me esforcei o suficiente de certa forma o que estou a dizer é que, se eu me esforçar, eu vou conseguir alcançar. Imaginemos então a questão da parte da Matemática, se eu tive negativa a matemática porque de facto não tenho jeito para a Matemática, é muito mais difícil que ele consiga estar motivado para a aprendizagem naquela área porque, obviamente, se aquilo que eu estou à espera é de não ser capaz, vou evitar essa situação de insucesso.”

Francisco Peixoto refere que quando estamos perante situações de insucesso devemos tentar que a atribuição da causa do insucesso seja feita ao esforço e não à capacidade: “O génio é só 10% depois é 90% de suor. É importante passar esta ideia aos estudantes no sentido de que o esforço é aquilo que é o mais importante para se conseguir alcançar o sucesso”.

Saiba mais sobre o investigador em: LinkedIn | ResearchGate | ISPA

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