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Ep. 21 Joana Robalo – Espécie ameaçada de peixe volta a repovoar as ribeiras da Região Oeste

December 20, 2016

ep021_interiorDistribuído pelos rios Alcabrichel, Sizandro e Safarujo, o pequeno Ruivaco-do-Oeste, peixe da família dos ciprinídeos, existe apenas nas ribeiras da região oeste de Portugal, e encontra-se hoje, ameaçado de extinção devido à poluição e à regularização das margens onde habita.​


Joana Robalo, bióloga do ISPA – Instituto Universitário e do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente), foi a responsável pela descoberta e caracterização desta nova espécie em 2005, e hoje, dedica-se à sensibilização das populações locais para a sua protecção.

As regularizações efetuadas nas margens das ribeiras onde o Ruivaco-do-Oeste habita, têm levado à destruição da vegetação marginal, importante para o desenvolvimento desta espécie.

Para Joana Robalo, o facto de o Ruivaco-do-Oeste habitar pequenas ribeiras de regime tipicamente mediterrânico torna-os particularmente vulneráveis às secas que se fazem sentir durante o Verão, o que torna incerta a sobrevivência desta espécie.

Isolada há seis milhões de anos esta espécie foi descoberta apenas por acaso. “É uma espécie que vive nos rios Alcabrichel e Sizandro e Safarujo, e nós pensamos que esta espécie esteja isolada há cerca de seis milhões de anos. Acreditamos que esta espécie tenha tido uma distribuição muito maior ao longo da península ibérica, pois os animais mais parecidos geneticamente com esta espécie que nós descrevemos encontram-se na região do Minho e Douro lá mesmo junto à fronteira com Espanha. Foi descoberto mais ou menos por acaso. Andávamos a caracterizar pequenos ciprinídeos das ribeiras e os resultados da genética mostraram-nos que tínhamos ali uma coisa completamente diferente.

A descrição como espécie foi importante para o Ruivaco-do-Oeste receber a distinção de espécie ameaçada.“Descobrimos uma nova espécie que acabámos por descrever, principalmente devido aos problemas de conservação que a espécie enfrentava. Estas ribeiras são muito pequenas, são independentes e estavam muito degradadas. Tinham severos problemas de poluição. São rios tipicamente de regime mediterrânico, no Inverno levam bastante água mas no Verão acabam por estar limitados a pequenas poças, por isso quando descobrimos a espécie foi quase uma obrigação moral descrevê-la porque precisava mesmo daquele estatuto específico que lhe confere alguma protecção.”

Contudo, ainda há alguma esperança para o futuro desta espécie única em Portugal. Ao longo dos últimos anos, foram implementados protocolos de reprodução desta espécie em cativeiro. Através de um acordo realizado entre a Quercus, o Aquário Vasco da Gama e a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (FMV), foi estabelicida uma estação de reprodução em Campelo, em Figueiró dos Vinhos, numa piscicultura desactivada onde, desde 2008, é feita  a reprodução de peixes das populações mais ameaçadas da região.

Joana Robalo, explica que estes peixes são criados usando um método de reprodução natural, com a alimentação produzida nos próximos tanques. “Conseguimos reproduzir os peixes de forma natural, sem recurso a indução hormonal, e isso permite que os peixes estejam numa espécie de simulacro do seu ambiente natural e aprendam as mesmas respostas, como a resposta de fuga a predadores, que neste caso são os outros membros da própria espécie.” Vamos apanhar os reprodutores nos locais de origem e devolvê-mos-los no mesmo sítio para garantir que não há contaminação das populações com indivíduos de outros locais. Tudo isso faz com que estejam prontos para servirem como repovoadores dos seus locais de origem.”

A investigadora alerta ainda que todos estes esforços só podem continuar a ter resultado, se houver simultaneamente um esforço de proteção das ribeiras e de despoluição dos habitats naturais do Ruivaco-do-Oeste.

Saiba mais sobre a investigadora em: LinkedInResearchGate | ISPA

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