sociologia,
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Ep. 771 Ana Nunes de Almeida – Que impacto teve a crise nas crianças e nos adolescentes?

January 20, 2020

ep771_interiorEste estudo avaliou a perceção e o impacto da crise em crianças e adolescentes portugueses dos oito aos dezassete anos de idade.


Ana Nunes de Almeida, investigadora coordenadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS), desenvolveu este estudo a convite da UNICEF Portugal.

Foram realizadas 77 entrevistas a crianças e adolescentes entre os oito e os dezassete anos de idade, de ambos os sexos de diferentes meios socioeconómicos.

Neste estudo foi possível observar que as crianças não só reconheciam a palavra crise como tinham conhecimento do impacto real que a crise económica teve nas suas vidas, na dos seus pais e na dos seus colegas.

“Desde logo as crianças notaram que as condições materiais de vida da família se alteraram muito. Os pais agora pareciam que trabalhavam muito mais, estavam muito preocupados, estavam sempre stressados sem quase ter tempo para eles. Houve pais que tiveram que emigrar e deixaram as crianças para trás. O peso da crise no orçamento familiar era muito óbvio”, conta.

Estas mudanças afetaram em particular a saúde afetiva das famílias. Segundo Ana Nunes de Almeida, crianças e adolescentes dos mais variados grupos socioeconómicos reportaram uma redução do tempo passado em família, uma maior distância emocional entre os seus pais, e o aumento das discussões sobre o orçamento familiar.

Para elas foram ainda mais claras as mudanças nos padrões de consumo da família. Quase todas as crianças identificaram mudanças na alimentação, no consumo de roupa e de calçado e na própria educação.

Enquanto as crianças mais favorecidas tiveram que mudar de escola e de deixar de frequentar atividades extracurriculares, as crianças de meios desfavorecidos confessaram ter receio de ter que deixar de estudar para poderem ajudar os pais.

“Foi muito curioso perceber que é verdade que houve mudanças na alimentação, no consumo de roupa e de calçado, e na própria educação, mas que essas mudanças eram evidentemente percecionadas de maneira diferente por crianças mais favorecidas relativamente a crianças mais desfavorecidas”, conta.

Os resultados deste trabalho levaram à publicação do livro “Impacto da Crise nas Crianças Portuguesas: Indicadores, Políticas, Representações”.

Saiba mais sobre a investigadora em: Researchgate | Google Scholar | ICS

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