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Ep. 6 Ana Domingos – Neurónios do tecido adiposo podem guardar a solução para curar a obesidade

November 28, 2016

ep006_interiorA chave para combater a obesidade pode estar nos neurónios que compõe o tecido adiposo, responsável pela acumulação de gordura no nosso corpo. A gordura produz uma hormona que leva uma mensagem ao cérebro, e este responde com outra hormona que ativa a queima de gordura.​


Ana Domingos, investigadora no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), descobriu como é que o cérebro e o tecido adiposo mantêm esta conversa e identificou o que pode falhar nesse processo. Esta investigação abre as portas a um novo alvo do combate ao excesso de peso.

“Hoje em dia, em relação à obesidade, ainda estamos 100 anos atrasados do ponto de vista da opinião pública. Olhamos para uma pessoa obesa e pensamos que ele é obeso porque quer, e não é bem assim. A obesidade é um problema biológico tal como outras doenças, e temos que olhar para ele como um paciente que precisa de ser tratado. Queremos tomar partido da biologia para podermos desenvolver terapias que são seguras contra a obesidade”, afirma a investigadora.

“Descobrimos células no tecido adiposo, neurónios, que se forem ativados a gordura desaparece. Estes neurónios destinguem-se por produzirem um neurotransmissor, a norepinefrina que é responsável pelo processo de lipólise, ou seja da queima de gordura, do tecido adiposo.”

A biologia molecular aliada a técnicas optogenéticas, foram essenciais no estudo desenvolvido pelo grupo de Ana Domingos.

“Nós ativámos estes neurónios com uma técnica que se chama optogenética, que é uma técnica relativamente recente que tem vindo a revolucionar a área das neurociências. É uma técnica muito peculiar que toma o partido do genoma de uma alga unicelular, a Chlamydomonas reinhardtii, que vive no fundo do mar. Um dos genes dessa alga é um gene que codifica para uma proteína que é sensível à luz azul. Quando o gene entra em contacto com esta luz a proteína gera uma ação que permite à alga mover o seu flagelo. Se transpusermos esta ação para o contexto de um neurónio que é uma célula electro-excitável,  esta faz com que o neurónio fique activo e que liberte a norepinefrina”, conta.

Os perigos desta hormona para o nosso organismo exigem que a sua ativação seja feita a nível local. “Não queremos ter norepinefrina na corrente sanguínea. Um aumento dessa hormona pode levar a problemas cardiovasculares, basicamente, faz bater muito o coração, e pode causar hipertensão.”

Esta hormona é responsável pela “resposta de fuga” e é ativada em situações de stress. Produzida pelas glândulas supra-renais, segundo Ana Domingos a norepinefrina traz muitos riscos para o nosso organismo se não for usada corretamente. “As glândulas supra-renais vão libertar norepinefrina para a corrente sanguínea para termos força, energia e estaleca para fugir do perigo em causa. É uma resposta de stress, que não é uma boa estratégia para perder peso. O que nós queremos é libertar norepinefrina não via as glândulas supra-renais, mas sim via os neurónios que estão agarrados à gordura, portanto são esses que estamos a manipular para conseguir uma terapia segura.”

O laboratório de Ana Domingos já conseguiu demonstrar em ratos esta “queima de gordura” através da ativação localizada de neurónios do tecido adiposo. Com estes resultados, a investigadora mostra-se confiante na continuação do desenvolvimento da sua investigação.

Saiba mais sobre a investigadora em: ResearchGate | IGC

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